domingo, 23 de junho de 2013

Chá de Fralda: educar para discordar

Não consigo deixar de pensar no meu filho ao assistir estas manifestações históricas que estão acontecendo em São Paulo. Os confrontos acontecem porque os cidadãos resolveram ocupar as ruas – um espaço que, convenhamos, é deles – para dar um basta àquilo que os oprime há muito tempo. No entanto, tenho lido e ouvido muita gente discordar dos manifestos, dizendo que isso é um absurdo, “um bando de vagabundos atrapalhando o trânsito”, “uns vândalos”, e toda a sorte de comentários de pessoas indignadas com o direito de indignar-se. Questionar, discutir, manifestar-se contra determinada ordem vigente não faz parte do seu vocabulário, da sua formação. E isso, minha gente, vem do histórico de cada um.

É justamente esta a educação que eu não quero para meu filho. Gostaria de ensiná-lo que a base para a vida inteligente é saber que é possível, sim, discordar da opinião da maioria e de quem nos governa. Nem que isso signifique, para começo de conversa, discordar desta mãe que vos escreve. Dá mais trabalho, lógico. Tanto que vez ou outra, aqui em casa, sinto uma vontade insuportável de incorporar a tropa de choque e dar um basta no excesso de questionamentos do pequeno às minhas humildes ordens. Outro dia, ele queria-porque-queria comer pipoca depois da natação, o que signicava comer muito antes do jantar. Eu neguei e expliquei as razões. Ele discordou. Eu repeti. Ele discordou de novo. Eu repeti. E a conversa não acabava nunca – porque ele não se conformava com meus argumentos, que eram, de fato, frágeis para o ponto de vista dele. “Mamãe, você me ensinou que eu deveria comer alguma coisa depois da natação. Sempre como frutas. Hoje quero comer pipoca. Depois eu vou jantar, combinado?”. Não, ele não venceu a batalha. Mas não deixou de botar a boca no trombone. E eu também não deixei de ouvi-lo.
Se Benjamin fosse adulto, nos dias de hoje, eu gostaria que este seu poder de argumentação migrasse para a esfera pública. Eu não o impediria de ir para as ruas. Nem que meu coração de mãe ficasse em frangalhos, morrendo de medo dele ser atingido por um policial truculento. A educação que eu quero dar ao meu filho é a de que o exercício do livre pensamento pode mudar o mundo para melhor – sempre com ternura. Mahatma Gandhi, com delicadeza, atrapalhou bastante o trânsito e levou milhares de indianos às ruas para protestar contra os altos impostos britânicos. Se valeu à pena? Bem, muita gente foi presa e apanhou. Mas conseguiram libertar todo um país.







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